Peça a Graça da Perseverança, a exemplo de Nossa Senhora

 " ...  A rotina nos cansa, exaure nossas forças, nosso ardor, nossa paixão. Quantos de nós começamos projetos que abandonamos depois de um tempo? Dietas, exercícios, práticas de oração. Quantas pessoas conhecemos que eram profundamente envolvidas com a evangelização, mas que foram perdendo o ânimo ao longo dos anos e hoje mal pisam numa igreja? “Começar é de todos; perseverar, de santos”, nos ensina São Josemaria Escrivá4. Talvez por isso tenhamos uma inclinação maior para grandes feitos de fé, desprezando, de certa forma, o ordinário, o comum. O fato é que nós, em nossa maldade, muitas vezes subvertemos a ideia do martírio. ...

Peça a graça da perseverança, a exemplo de Nossa Senhora

Imploremos a Deus a graça de perseverarmos na fé. “Quantos se deixariam cravar numa cruz perante o olhar atônito de milhares de espectadores, e não sabem sofrer cristãmente as alfinetadas de cada dia! – Pensa então no que será mais heróico”, nos ensina São Josemaria Escrivá5. O amor de Santa Teresa d’Ávila por Cristo não foi menor que o dos mártires, ainda que tenha passado quarenta e sete anos encerrada num mosteiro, muito dos quais lidando com o silêncio de Deus. Quantos milhares de alfinetadas suportou Santa Teresa em quase meio século de vida religiosa! Mesmo tendo enfrentado tribulações “invisíveis”, para muitos de nós “sem graça”, ela perseverou. Há radicalidade em derramar o próprio sangue por Jesus, mas não é menos radical quem dedica cada pequeno ato de sua vida ao Senhor, levantando-se depois de cada queda, aceitando cada provação, pequena ou grande. Não busque a Deus somente nos grandes eventos e nos grandes encontros – sim, Ele também está lá, mas está no Santo Terço rezado em família quando ninguém vê, na insistência em buscar confessar-se sempre que peca, na fidelidade ano após ano à Santa Missa, mesmo que o padre não seja um grande pregador e ainda que a senhorinha que canta seja totalmente desafinada. Iluminam-nos numerosos exemplos de santos que não foram convidados por Deus ao martírio cruento, mas passaram décadas de sua vida vivendo o martírio incruento, como disse o Papa Emérito Bento XVI6, dando um testemunho silencioso e heroico de amor a Cristo e ao próximo. São Pio de Pietrelcina, São João Maria Vianney, São João Paulo II ocupam hoje os altares, mas quantos pais e mães de família, avôs e avós que combateram o bom combate, terminaram a corrida, guardaram a fé7, fazendo todos os dias a mesma oração ao acordar, a mesma oração ao dormir, desfiando intermináveis contas de terços ao longo de décadas, ajoelhando-se em adoração cada vez que Jesus Eucarístico é elevado no altar. E fizeram tudo isso, perseverando na sua relação com Deus, enquanto tinham contas a pagar, arroz para cozinhar, filhos rebeldes para suportar, netos para criar porque os pais não deram conta, doenças para enfrentar.

Que graça é ser mártir, imitar Cristo até a morte. Não há santo que não tenha desejado, de uma forma ou de outra, unir-se a Cristo morrendo por Ele. Mas a sabedoria de Deus é insondável e infinita, e Ele sabe o caminho que cada um deve percorrer para alcançar a santidade. Dimas, o bom ladrão, foi o primeiro a entrar no céu. Não precisou mais do que um ato de fé nos derradeiros instantes da sua vida, ao reconhecer-se pecador e reconhecer Jesus como Rei. Paulo, como sabemos, viveu décadas de tribulações e tanto cresceu no amor a Cristo que chegou ao ponto de exclamar que para ele, “viver é Cristo e morrer é lucro”8. Morreu, portanto, no lucro, já que seu sangue foi derramado pelo Nome que está acima de todo Nome. São João, por sua vez, apesar de ter vivido nas mesmas circunstâncias de Paulo, teve uma vida excepcionalmente longa para os padrões da época, morrendo de forma natural aos 94 anos. Não sei se terei a mesma oportunidade de São Dimas, de imediatamente antes da minha morte experimentar uma conversão plena e perfeita. Tampouco sei se terei vida longa como São João. O quê sei é que preciso da graça de Deus para perseverar na fé até que o Senhor venha ou até que eu vá me encontrar com Ele. Com São Pio de Pietrelcina, peçamos a Deus a graça de imitar o exemplo de perseverança da Santa Mãe de Deus: “Nossa Senhora recebeu pela inefável bondade de Jesus a força de suportar até o fim as provações do seu amor. Espero que você também possa encontrar a força de perseverar com o Senhor até o calvário”. "

Referências


4. Caminho, 983.

5. Caminho, 204.

6. Angelus do dia 28 de outubro de 2007.

7.  2 Timóteo 4, 7

8.  Filipenses 1, 21.      2 Coríntios  11, 24-27.


Nascimento. J.L.

CANÇÃO NOVA 

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